Escola Básica de Entre Ambos os Rios - Cantar as Janeiras
Escola Básica de Entre Ambos os Rios - Cantar as Janeiras
A Escola Básica de Entre Ambos os Rios gosta de cumprir tradições e cantar as Janeiras é uma delas, que realizamos com bastante emoção. Escolheram a segunda semana, mais propriamente o dia 17 de janeiro para alegrar as ruas à volta da nossa escola.
Cantando uma canção tradicional, adaptada, fomos de porta em porta a desejar um bom ano às famílias e instituições. Em troca, recebemos pequenas oferendas, como doces e até dinheiro, e que nos vai ajudar a realizar uma atividade.
A música das Janeiras era bastante alegre e festiva, e expressou votos de saúde, prosperidade e felicidade para todos que nos ouviram. Estes são os votos de todos nós para toda a comunidade.
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 16
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 16

“O fogo que na branda cera ardia”
O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil que na alma vejo,
Se acendeu de outro fogo do desejo,
Por alcançar a luz que vence o dia.
Como de dois ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.
Ditosa aquela flama, que se atreve
Apagar seus ardores e tormentos
Na vista do que o mundo tremer deve!
Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela neve
Que queima corações e pensamentos.
Luís de Camões
Este soneto de Luís de Camões retrata o ardor do amor, comparando-o ao fogo que consome a cera.
O eu lírico expressa o desejo de “alcançar a luz que vence o dia”, num jogo semântico que explora “o fogo que na branda cera ardia” e a intensidade do “outro fogo do desejo”, que consome a sua alma.
Acontece que a inspiração para o poema resulta de um incidente do quotidiano. D. Guiomar de Blasfé, filha de D. Francisco Coutinho, o futuro 3.º Conde do Redondo, queimou os cabelos ao aproximar-se, descuidadamente, de uma vela ou, segundo uma outra versão, foi queimada no rosto por uma vela caída de um candelabro.
Camões dedicou ao acidente dois poemas célebres pelo seu tom humorístico, em que exalta a beleza da dama, “tão ardente e perigosa quanto a chama da vela”.
Para além do soneto, o outro poema é uma cantiga, em que o Poeta, face ao mote “Amor, que todos ofende, / teve, Senhora, por gosto, / que sentisse o vosso rosto / o que nas almas acende.”, escreveu a seguinte volta:
“Aquele rosto que traz
o mundo todo abrasado,
se foi da flama tocado,
foi porque sinta o que faz.
Bem sei que Amor se lhe rende;
Porém o seu prosuposto
Foi sentir o vosso rosto
O que nas almas acende.”
Não é difícil de imaginar o ambiente dos serões palacianos em que este tipo de poesia terá surgido. Nas palavras de Isabel Rio Novo, trata-se, de facto, “de poesias ligeiras ou de circunstância, que, tanto pelo estilo como pelas alusões que encerram, não seriam compreendidas fora desse meio ou não teriam interesse senão para os seus frequentadores.”
Poucos dias depois do aniversário do Poeta, que ocorreu no passado dia 23 de janeiro, celebramos o Camões da juventude. Camões a espalhar “Engenho e Arte” e humor pelos salões dos palácios de famílias importantes…
A Organização
Fontes:
Luís de Camões, “Obras Completas de Luís Vaz de Camões. II Volume – Lírica”, Lisboa, E-Primatur, 2019, pp. 170 e 99.
Isabel Rio Novo, “Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís Vaz de Camões”, Lisboa, Contraponto, 2024, p. 101.
Justino Mendes de Almeida, “O Humor Camoniano: Aspectos psicológicos na poesia de Camões”, disponível em https://repositorio.ual.pt/server/api/core/bitstreams/aa2b098b-4501-477b-a54e-0df15b7c3570/content, acedido em 24.01.2025.
Camões celebra o seu 501.° aniversário
Camões celebra o seu 501.° aniversário
Os alunos dos 11.º A, B e C participaram ativamente na festa de aniversário do nosso poeta nacional, Luís Vaz de Camões, no dia 23 de janeiro.
Declamaram com entusiasmo diversos poemas de Camões, demonstrando a atualidade e a força das palavras do poeta.
O ponto alto foi quando sopraram as velas do bolo de aniversário, num gesto simbólico que marcou a celebração da vida e obra de Luís de Camões.
A festa foi, sem dúvida, um tributo vibrante e tocante ao génio literário que continua a inspirar gerações.
Professora Fátima Marques
Corta Mato Escolar - fase: Distrital
Corta Mato Escolar - fase: Distrital
No dia 16 de janeiro, os meninos do 5.º Ano da Escola Básica Diogo Bernardes, participaram no corta-mato distrital, em Caminha.
Ao todo foram 12 alunos do 5.º Ano.
Após chegarem a Caminha, os atletas dirigiram-se aos balneários para se equiparem. Quando estavam prontos, dirigiram-se para a zona de aquecimento.
Começaram primeiro os Infantis A femininos, o que resultou numa medalha de ouro, conquistada pela Matilde Sousa. Ainda assim conquistaram o terceiro lugar por equipas.
Após as raparigas terminarem a corrida, os infantis A masculinos dirigiram-se para a linha de partida. Quando terminaram foram desequipar e esperaram que os outros acabassem as provas. No final foram para o autocarro e voltaram para a escola.
Texto elaborado pelos alunos do 5.ºD
(F. Coelho; Matilde Simão; F. Gomes; Rúben e Vicente Rodrigues)

Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 15
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 15

Camões: Embarca Engenho e Arte – “O dia em que nasci moura e pereça”
O dia em que nasci moura e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar,
Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o sol padeça.
A luz lhe falte, o céu se lhe escureça,
Mostre o Mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.
As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o Mundo já se destruiu.
Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!
Luís de Camões, “Lírica” (fixação de texto de Hernâni Cidade), Lisboa, Círculo de Leitores, 1980, p. 244.
Neste soneto, o sujeito poético amaldiçoa o dia em que nasceu e deseja que jamais se repita; mas, se, porventura, tal suceder, faz votos de que fique marcado por acontecimentos catastróficos, de cariz apocalíptico, para que todos saibam que esse “dia deitou ao Mundo a vida / Mais desgraçada que jamais se viu!”.
Num registo autobiográfico, profundamente disfórico, sobressaem os sentimentos de desesperança total e até de revolta, face à desilusão, à frustração, à dor profunda do poeta, parafraseando, para o efeito, as lamentações do texto bíblico do “Livro de Job”.
Apesar de a autoria camoniana do soneto não reunir o consenso, apetece, imediatamente, estabelecer uma associação entre o Camões-sujeito e o Camões-objeto da sua poesia, trazendo à memória a vida turbulenta e sombria que a “fortuna” lhe ofereceu.
São as suas atribulações amorosas, os degredos em Ceuta e no Oriente, os ferimentos em combate e a perda do olho direito, os diversos cativeiros, os perigos dos mares e da guerra, a miséria sempre omnipresente, a falta de reconhecimento, o desalento, a doença e, mesmo no final da vida, o golpe existencial de Alcácer Quibir e o consequente domínio filipino, com a apagada e vil tristeza a abater-se sobre a nação e sobre ele próprio.
Mas este poema suscita outras questões no domínio da astronomia, a ponto de investigadores da área concluírem, partindo do soneto, que Camões terá nascido, precisamente, a 23 de janeiro de 1524.
Na primeira quadra, escreve o sujeito poético que o dia em que nasceu não deverá voltar mais ao mundo, mas, se isso acontecer, “eclipse nesse passo o Sol padeça”. Por outras palavras, que tal suceda, quando o sol regressar ao ponto inicial, depois de percorrer toda a eclíptica, e ele completar um ano de idade.
Esta pista levou investigadores da Universidade de Coimbra a aprofundarem uma ideia defendida, em 1940, por Mário Saa. Meteram mãos à obra e procuraram todos os eclipses visíveis em Portugal, em 1524 e 1525. Consultando os dados da agência espacial norte-americana NASA, a equipa apenas encontrou um nesse período, a 23 de janeiro de 1525. Reforçaram, então, a ideia de o poeta terá nascido um ano antes, ou seja, a 23 de janeiro de 1524, já lá vão 501 anos.
Sendo assim, na próxima quinta-feira, brindemos com Luís de Camões.
São os 501 anos deste génio do Engenho e Arte!
A Organização
Fonte: Filipa Almeida Mendes e Lusa, “Um soneto e um eclipse solar indicam a data de nascimento de Camões”, in “Público”, 12 de janeiro de 2024. Disponível em https://www.publico.pt/2024/01/12/ciencia/noticia/soneto-eclipse-solar-indicam-data-nascimento-camoes-2076646, acedido em 15/01/2025.
“À conversa com Mónica Mota Lopes”: Pequenos gestos fazem grandes diferenças
“À conversa com Mónica Mota Lopes”:
Pequenos gestos fazem grandes diferenças
A obra “Pequenos Gestos, Grandes Diferenças”, de Mónica Mota Lopes, esteve no centro de uma animada conversa que a autora manteve com os alunos dos 2.º, 3.º e 4.º anos do Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca.
No âmbito da iniciativa “À conversa com…”, promovida pela Biblioteca Escolar, em articulação com o Departamento do 1.º Ciclo, a jornalista e escritora partilhou com os mais novos alguns dos desafios que os seis contos do livro colocam, inspirando-os a uma atitude positiva e facilitadora do bem-estar pessoal.
“Desde o bullying, passando pela capacidade de superar desafios e pelo enaltecimento das capacidades de cada um de nós”, até à autoestima e à persistência na concretização dos nossos sonhos e do nosso projeto de vida, a interação explorou todos estes temas, num registo sempre muito próximo e produtivo, com a escritora a responder às questões colocadas pelos participantes.
Num apelo permanente ao desenvolvimento pessoal e social, a conversa com Mónica Mota Lopes revelou-se um excelente exercício de cidadania, de promoção da autoestima e de valorização da diferença.
Recorde-se que, por ocasião do Natal, os alunos dos 2.º, 3.º e 4.º anos do Agrupamento de Escolas haviam sido presenteados pela Câmara Municipal de Ponte da Barca com um exemplar de “Pequenos Gestos, Grandes Diferenças”, pelo que grande parte dos participantes já havia lido a obra, situação que enriqueceu a interação com a autora.
Biblioteca Escolar
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 14
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 14

Despedidas em Belém: “Por perdidos as gentes nos julgavam…”
[…] Em tão longo caminho e duvidoso
Por perdidos as gentes nos julgavam,
As mulheres cum choro piadoso,
Os homens com suspiros que arrancavam.
Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrecentavam
A desesperação e frio medo
De já nos não tornar a ver tão cedo.
Qual vai dizendo: – «Ó filho, a quem eu tinha
Só pera refrigério e doce emparo
Desta cansada já velhice minha,
Que em choro acabará, penoso e amaro,
Porque me deixas, mísera e mesquinha?
Porque de mi te vás, o filho caro,
A fazer o funéreo encerramento
Onde sejas de pexes mantimento?»
Qual em cabelo: – «Ó doce e amado esposo,
Sem quem não quis Amor que viver possa,
Porque is aventurar ao mar iroso
Essa vida que é minha e não é vossa?
Como, por um caminho duvidoso,
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Nosso amor, nosso vão contentamento,
Quereis que com as velas leve o vento?»
[…] Nós outros, sem a vista alevantarmos
Nem a mãe, nem a esposa, neste estado,
Por nos não magoarmos, ou mudarmos
Do propósito firme começado,
Determinei de assi nos embarcarmos,
Sem o despedimento costumado,
Que, posto que é de amor usança boa,
A quem se aparta, ou fica, mais magoa.
Luís de Camões, “Os Lusíadas”, IV, 89-91; 93
Ainda a propósito dos 500 anos da morte de Vasco da Gama, que ocorreu no último dia 24 de dezembro, impõe-se uma breve visita à grandeza heroica do seu feito como capitão-mor da armada que, pela primeira vez, ligou a Europa à Índia.
Comecemos pela partida, a 8 de julho de 1497, um sábado. Uns cento e setenta homens, entre soldados e marinheiros, aparelharam “a alma pera a morte” (IV, 86), comungando e pedindo a proteção de Deus, e, depois, dirigem-se em procissão da capela de Nossa Senhora de Belém para os batéis, que os conduziriam às três caravelas.
“A gente da cidade” (IV, 88) enche o areal, num ambiente tenso e sombrio. São as despedidas de quem parte “pera buscar do mundo novas partes.” (IV, 85).
“Por perdidos as gentes nos julgavam” – diz Vasco da Gama. E, entre a dor mais atroz, surgem
“As mulheres cum choro piadoso,
Os homens com suspiros que arrancavam.
Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrecentavam
A desesperação e frio medo
De já nos não tornar a ver tão cedo.”
Neste ambiente na Praia das Lágrimas, como lhe chamavam à época, Vasco da Gama, para evitar males maiores, toma uma decisão:
“Determinei de assi nos embarcarmos,
Sem o despedimento costumado.”
Mas este é apenas o peso inicial. Com a viagem no alto-mar, surgiam os enjoos, a ansiedade e o pânico do desconhecido, novos climas e doenças assustadoras, fenómenos naturais tenebrosos, tempestades, “naufrágios, perdições de toda a sorte” (V, 44). E também a fome e a sede e os encontros e desencontros com os povos indígenas e os ataques e outros acidentes…
No canto V, Vasco da Gama resume ao rei de Melinde – e a cada um de nós – todos estes tormentos:
“Ora imagina agora quão coitados
Andaríamos todos, quão perdidos,
De fomes, de tormentas quebrantados,
Por climas e por mares não sabidos!” (V, 70)
A viagem da armada de Gama até Calecute constitui um marco histórico, com um notável impacto aos mais diversos níveis. Mas teve um preço muito elevado, nomeadamente, em termos humanos.
Num tom épico-lírico, Fernando Pessoa imortalizaria, em pleno século XX, a grandeza de toda esta gesta com o poema “Mar Português” (in “Mensagem”):
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
Vale a pena ouvir – e cantar – este poema, acompanhando Mafalda Arnauth e os “Milladoiro”. O tema faz parte do álbum "A Quinta das Lágrimas" (2008).
A Organização
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 13
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 13

“Mandas-me, ó Rei, que conte…”
Prontos estavam todos escuitando
O que o sublime Gama contaria,
Quando, despois de um pouco estar cuidando,
Alevantando o rosto, assi dizia:
– «Mandas-me, ó Rei, que conte declarando
De minha gente a grão genealogia;
Não me mandas contar estranha história,
Mas mandas-me louvar dos meus a glória.
Que outrem possa louvar esforço alheio,
Cousa é que se costuma e se deseja;
Mas louvar os meus próprios, arreceio
Que louvor tão suspeito mal me esteja;
E, pera dizer tudo, temo e creio
Que qualquer longo tempo curto seja;
Mas, pois o mandas, tudo se te deve;
Irei contra o que devo, e serei breve.
Além disso, o que a tudo, enfim, me obriga
É não poder mentir no que disser,
Porque de feitos tais, por mais que diga,
Mais me há de ficar inda por dizer.
Mas, porque nisto a ordem leve e siga,
Segundo o que desejas de saber,
Primeiro tratarei da larga terra,
Despois direi da sanguinosa guerra. […]»
Luís de Camões, Os Lusíadas, III, 3-5
É neste início do canto III que o “sublime Gama” assume o papel de narrador, contando – ou melhor, cantando – ao rei de Melinde a História de Portugal e da viagem, de que ele próprio era o “valeroso capitão”.
Neste porto seguro do Índico, Vasco da Gama trata primeiro “da larga terra”, em seguida, da “sanguinosa guerra” e, por fim, da viagem da sua armada, desde Belém até Melinde, onde se encontram, dando corpo aos cantos III, IV e V.
O herói de “Os Lusíadas” é “o peito ilustre Lusitano / a quem Neptuno e Marte obedeceram” (I, 3). Mas o acontecimento maior que serve de eixo a toda a narração é a viagem de Vasco da Gama (1469-1524), que, “por mares nunca de antes navegados” (I, 1), deu novos mundos ao mundo, ao chegar a Calecute, na Índia, a 20 de maio de 1498, na mais longa viagem oceânica até então realizada.
Não deixa de ser curioso que esta figura central da epopeia tenha morrido, precisamente, no ano em que Camões nasceu. Foi a 24 de dezembro de 1524 – fez no dia de Consoada 500 anos – que faleceu em Cochim, na Índia, onde desempenhava o cargo de vice-rei.
Umas quatro décadas e meia depois, os Gama e Camões voltam a cruzar-se, quando o poeta preparava a publicação de “Os Lusíadas”, obra que imortalizaria, entre outros, os feitos do “valeroso capitão”.
Procurando um mecenas para a impressão do livro, Isabel Rio Novo escreve que Camões, “segundo todas as probabilidades, foi primeiro bater às portas da família Gama. […] Mas os Gama não atenderam o seu pedido.” A este propósito, a autora recorda ainda que o “biógrafo inglês Richard Burton evocava uma anedota, segundo a qual, numa altura em que alguém citara ‘Os Lusíadas’ como honrando o nome dos Gama, um descendente do descobridor tinha exclamado: ‘Temos os títulos e não queremos os elogios.’”
Enfim! Razão tinha o poeta para lamentar, no final do canto V, que “quem não sabe arte não na estima” (V, 97), criticando os seus contemporâneos, porque desprezavam as letras, a arte em geral.
Mais: os Portugueses são “tão ásperos”, “tão austeros, / tão rudos e de engenho tão remisso” (V, 98), que nem se preocupam minimamente com esta sua pobre condição.
Pois… Era assim, há 500 anos!
A Organização
Bibliografia: Isabel Rio Novo, “Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís Vaz de Camões”, Lisboa, Contraponto, 2024, p. 460.
Dezembro... Um Mês Especial!
Dezembro... Um Mês Especial!
Partilhamos o registo de alguns momentos que demonstram o espírito natalício da nossa escola.
Um agradecimento especial aos alunos, professores e assistentes operacionais que diretamente se envolveram no espírito natalício e tornaram possível todos estes momentos!
Um Feliz Natal para todos!
Daniela Pereira
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 12
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 12

Camões: Embarca Engenho e Arte – “Dos Céus à terra desce a mor beleza”
Dos Céus à terra desce a mor beleza,
Une-se à carne nossa e fá-la nobre;
E, sendo a humanidade dantes pobre,
Hoje subida fica à mor alteza.
Busca o Senhor mais rico a mor pobreza
Que, como ao mundo o seu amor descobre,
De palhas vis o corpo tenro cobre,
E por elas o mesmo Céu despreza.
Como Deus em pobreza à terra desce?
O que é mais pobre tanto lhe contenta
Que só rica a pobreza lhe parece.
Pobreza este Presépio representa.
Mas tanto, por ser pobre, já merece
Que quanto é pobre mais, mais lhe contenta.
Luís Vaz de Camões, “Lírica Completa II. Sonetos”, prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1980, pp. 286-287.
A poucos dias da Festa do Natal, partilhamos este belo soneto, “Dos Céus à terra desce a mor beleza”, apesar de a sua autoria camoniana não ser consensual.
Diante do presépio, ou seja, do curral ou da manjedoura onde, segundo o “Evangelho de Lucas”, Maria deu à luz, “porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7), o sujeito poético reflete sobre o acontecimento natalício, defendendo “que Deus desce à terra em pobreza e, ao humanar-se, torna nobre toda a Humanidade.”
Por outras palavras, Deus faz-se homem para que o homem recupere horizontes de grandeza divina, a ponto de poder chamar-se filho de Deus…
Esta ideia é também sublinhada na primeira estrofe de um outro soneto, igualmente de autoria camoniana duvidosa:
“Desce do Céu imenso, Deus benino,
Para encarnar na Virgem soberana.
‘Porque desce divino em cousa humana?’
‘Para subir o humano a ser Divino.’”
A tónica dominante do poema é, no entanto, de âmbito social e tem a ver com o desafio da pobreza, ou melhor, do despojamento.
“O Senhor mais rico” procura voluntariamente a pobreza e troca o Céu pelas “palhas vis” com que se cobre:
“Como Deus em pobreza à terra desce?
O que é mais pobre tanto lhe contenta
Que só rica a pobreza lhe parece.”
Na opinião de especialistas da lírica de Luís de Camões, esta será uma poesia da última fase literária do artista, marcada já “pelo fervor da Contra-Reforma“ e “muito distante da fase petrarquista”.
Em plena quadra festiva, Camões continua a embarcar Engenho e Arte…
Feliz Natal!
A Organização













