Informações-Prova 2024/2025
Informações-Prova 2024/2025
Já se encontram publicadas as Informações-Prova (Informação-Prova Geral e Informações-Prova Específicas) das provas de avaliação externa a realizar no ano letivo 2024/2025.
Consulte-as acedendo à Informação-Prova Geral – republicada a 19 de novembro.
Provas Finais e Exames: utilização de calculadoras no Ensino Básico e no Ensino Secundário
Provas Finais e Exames
Utilização de calculadoras no Ensino Básico e no Ensino Secundário
Assunto: Utilização de Calculadoras no Ensino Básico e no Ensino Secundário: Prova Final de Ciclo de Matemática – 9.º ano; Exames Finais Nacionais de Economia A, de Física e Química A, de Matemática A, de Matemática B e de Matemática Aplicada às Ciências Sociais, em 2024-2025.
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 31
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 31
“Camões: Embarca Engenho e Arte” – As lágrimas de Inês
(…) Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.
(…) Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
(…) Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Luís de Camões, “Os Lusíadas”, III, 118, 120, 122-123.
A história do amor de Inês e Pedro é, sem dúvida, uma das mais comoventes e conhecidas da literatura portuguesa, inspirando o longo e belo episódio de Inês de Castro, no canto III d’”Os Lusíadas”.
Dois jovens, que se amam profunda e incondicionalmente, são vítimas de questões políticas, caindo numa tragédia em que o ódio, a vingança e a morte destroem a sua felicidade.
Face às recomendações dos conselheiros e à pressão do povo, D. Afonso IV, temendo que a relação de Inês com o príncipe D. Pedro, herdeiro do trono, pudesse acarretar perigo para o reino, resolve cortar o mal pela raiz: a bela fidalga galega é condenada à morte!
Quando Inês toma conhecimento desta decisão, vai ter com o rei, rodeada dos filhos, e suplica clemência, por se considerar inocente. Em desespero, implora ao monarca que comute a pena por um degredo.
Preocupa-a, acima de tudo, os filhos, “que tão queridos tinha e tão mimosos, / cuja orfandade como mãe temia” (III, 125), e, então, pede a D. Afonso IV: “A estas crianças tem respeito” (III, 127).
Tudo em vão! A execução de Inês de Castro aconteceu a 7 de janeiro de 1355, em Coimbra.
Anos depois, D. Pedro, já rei de Portugal, declarou que havia casado clandestinamente com Inês, uns tempos antes da sua morte. E foi mais longe… Promoveu o trasladação do seu corpo do mosteiro de Santa Clara de Coimbra para o mosteiro de Alcobaça. E, na estátua do túmulo de Inês, impôs-lhe a coroa.
Quando faleceu, foi sepultado junto da sua amada, a “mísera e mesquinha / Que despois de ser morta foi Rainha”. Os seus túmulos são duas verdadeiras obras-primas da escultura gótica em Portugal.
Neste episódio d’”Os Lusíadas”, Camões mostra Inês como o símbolo do protesto contra o autoritarismo do poder real e os mandamentos da Igreja, assumindo os riscos da liberdade, qual cordeiro angélico e inocente levado ao sacrifício, numa gesta que conduz à coroação do amor que assume a morte e, por isso, se projeta na eternidade.
O amor trágico de Inês e de Pedro, nomeadamente, a versão recriada por Camões, alimentou o imaginário popular, num misto de factos, lenda e mito, transformando-se numa história intemporal, que atraiu e inspirou, ao longo dos séculos, grande número de poetas, escritores e outros artistas de várias nacionalidades, da música ao bailado, da escultura à pintura e ao cinema.
Vamos ouvir a história de Pedro e Inês na voz de Maria de Vasconcelos. A canção, da sua autoria, chama-se “Sempre (D. Pedro e D. Inês)” e faz parte do álbum “As canções da Maria – Especial História de Portugal”.
A Organização
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 32
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 32
“Camões: Embarca Engenho e Arte”: Erros meus, má fortuna, amor ardente
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas, que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!
Luís Vaz de Camões, “Lírica Completa II”, prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1980, p. 164.
Num registo autobiográfico, o sujeito poético faz o balanço do seu percurso de vida, assinalando as causas da sua perdição: os erros que cometeu, o destino infeliz, que o perseguiu, e o amor intenso, que o desgraçou.
Segundo confessa, “Errei todo o discurso de meus anos”, assim justificando que a “Fortuna” tenha sido tão pouco generosa consigo. Mas, para que não restem dúvidas, garante que bastaria o amor, por si só, para a sua perdição. Uma perdição tão atroz e irremediável, que o impede de ter qualquer tipo de esperança, no presente…: “A não querer já nunca ser contente”.
Numa primeira leitura, apetece afirmar que estamos perante o tópico clássico do amor como origem da desventura pessoal. Acontece que este testemunho intenso sobre o amor, de que o sujeito poético só viu “breves enganos”, convoca-nos para uma abordagem mais alargada. E aqui encontramos uma dimensão nova, profundamente pessoal e sofrida.
De facto, “o conjunto de poemas de Camões que abordam o tema da morte física ou psicológica do amor é demasiado vasto para que os possamos considerar meros exercícios de estilo, imitação convencional de modelos consagrados ou encomendas de outrem. Petrarca e os poemas petrarquistas – continua Isabel Rio Novo – influenciaram-no, seguramente; todavia, enquanto a poesia do italiano transmite uma impressão de serenidade, a de Camões está perpassada de agitações, impulsos, impaciências, contradições, que não advêm do sentimento do amor em si, mas antes das circunstâncias que o rodeiam: desigualdades sociais, afastamento, ausência, saudade, ciúme, remorso”.
Quer dizer, neste soneto sobejamente conhecido parece estar todo o drama emocional, existencial do Poeta, resultante do amor impossível – porque desigual… – que o perseguiu ao longo da vida e que esteve na origem de mil e uma desventuras, desde a prisão ao desterro.
Este tom fortemente disfórico, de profundo extremismo no balanço da existência, remete-nos para um outro soneto, igualmente sombrio, em que fala do início da sua vida:
(…) O dia em que nasci moura e pereça, (…)
(…) Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao Mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!
Camões partiria no dia 10 de junho de 1580, já lá vão 445 anos. Morreu amargurado pela doença e pela miséria.
Morreu…, mas deixou-nos uma obra notável que vale uma literatura e que o afirmou como o símbolo maior da identidade nacional e da união do mundo da lusofonia.
É no dia da sua partida que celebramos quem somos. É a 10 de junho que comemoramos o Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas.
Um bom dia para celebrar Camões, na voz de Amália Rodrigues! “Erros meus”, um tema do álbum “Fado Português”…
Fonte: Isabel Rio Novo, “Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís Vaz de Camões”, Lisboa, Contraponto, 2024, pp. 133 e 586-587.
A Organização
Legenda da imagem: Cópia de Luís de Resende do retrato de Camões pintado por Fernão Gomes, ainda em vida do Poeta. O original perdeu-se.
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 30
Camões: Embarca Engenho e Arte – Edição 30
“Camões: Embarca Engenho e Arte” – “Sete anos de pastor Jacob servia”
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela:
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la:
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava a Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: “Mais servira, senão fora
Para tão longo amor tão curta a vida”.
Luís de Camões, “Lírica Completa II”, prefácio e notas de Maria de Lurdes Saraiva, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1980, p. 168.
Partindo do episódio bíblico apresentado no capítulo 29 do livro “Génesis”, que tem Jacob como protagonista, este soneto acaba por esquecer elementos menos comovedores da fonte de inspiração e, com grande sensibilidade, valoriza um sentido original, ao centrar-se na exaltação da constância do amor e da fidelidade a toda a prova.
Jacob representa, de facto, uma personagem que ultrapassa todas as barreiras, a fim de merecer a pessoa que ama. Durante sete anos, “o triste pastor” serve Labão, na esperança de merecer Raquel como prémio desse trabalho, mas a sua esperança é enganada, pois o pai dá-lhe outra filha, chamada Lia.
Jacob não desiste e começa – ou recomeça – a servir Labão durante mais sete anos. As palavras finais do poema, pronunciadas emotivamente em estilo direto, manifestam, de uma forma magistral, o seu ânimo firme e decidido, o seu amor sólido e imutável:
“[…] Mais servira, senão fora
Para tão longo amor tão curta a vida”.
Num estilo simples e numa linguagem direta, o soneto afirma-se como uma autêntica narrativa da alma do povo. Citando Agostinho de Campos, dir-se-ia que “o moço minhoto, aldeão e analfabeto, que tenha pensado em emigrar para longe, com a esperança de voltar ao fim de anos e casar-se com a rapariga que ama, filha do lavrador mais rico da terrinha, chorará com certeza, se ouvir ler esses versos, porque os pode compreender e sentir de ponta a ponta”.
Esta simplicidade e fluidez narrativa terão, certamente, justificado a vasta receção que o poema teve, não só em Portugal, mas, sobretudo, em Espanha, a ponto de ser considerado um dos textos líricos mais célebres e imitados de Camões.
Carolina Michaëlis “estudou em especial as imitações que o poema originou em Espanha e, segundo afirma, o soneto, ainda antes da sua publicação na primeira impressão das “Rimas”, em 1595, foi espalhado em numerosos apógrafos pelos reinos de Espanha, tendo sido citado, traduzido e imitado por diversos autores”.
Teófilo Braga sustenta mesmo que “Sete anos de pastor Jacob servia” foi parafraseado pelo próprio Filipe II de Castela…
Sugerimos a audição do poema cantado por Amália Rodrigues. Faz parte do seu derradeiro álbum de originais, “Obsessão”, de 1990.
Fonte: Xosé Manuel Dasilva Fernández, “O soneto camoniano ‘Sete anos de pastor Jacob servia’ à luz do cânone editorial de Leodegário A. de Azevedo Filho”, em “O Marrare” – Revista da Pós-Graduação em Literatura Portuguesa. Disponível em http://www.omarrare.uerj.br/numero15/xosemanuel.html, acedido em 23/05/2025.
A Organização